O técnico de enfermagem
Técnicos de enfermagem são 75% dos profissionais que assistem os enfermos
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© 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
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POR ALFREDO GUARISCHI
25/04/2016
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‘Me ajude.”
Era madrugada, e a luz do quarto foi acesa. Uma
técnica de enfermagem veio me socorrer, pois eu quase havia caído da cama,
embaraçado com sonda, dreno e soro. Apesar de ter recebido orientação para não
me levantar sem ajuda, “achei” que não teria problema. Afinal, sou médico!
A enfermeira chegou minutos depois da técnica. Os
tubos estavam no lugar. O médico plantonista posteriormente veio me examinar.
“Quer um sedativo?”, perguntou.
Fui colocado na cama. Adormeci. Horas depois, que
pareceram segundos, fui acordado. Hora do banho. No leito? Sim. Estava de
“castigo” e voltaria a tomar o “banho” na cama. No chuveiro seria imprudente.
Compressas e água nada morna. A mesma técnica, de
olhar cansado por mais uma noite acordada, procurava me animar. Quase no final
do “banho”, recebeu ajuda do técnico mais antigo do hospital. Meu velho
companheiro de batalhas chegava ao plantão e soube de mim. Ele me aplicou uma
injeção — de ânimo. Disse que eu ficaria bem. Acreditei.
No centro cirúrgico, por trás de máscaras nada
venezianas, outros técnicos ajudavam o anestesista. O cirurgião não abria mão
de sua instrumentadora e também técnica de enfermagem. Que time!
Depois de um longo período, retornei ao trabalho. Deixei
de ser paciente e voltei a ser o irrequieto e impaciente médico. Não mais
encontrei vários dos técnicos que tanto me ajudaram. Os médicos e enfermeiros,
muitos com pós-graduação e especialistas, lá estavam. Mas cadê aqueles meus
anjos? A vida segue. Os tempos são outros, e maioria dos rostos é desconhecida.
Gente muito jovem.
Técnicos de enfermagem são formados em cursos de
até dois anos, a maioria tem que trabalhar para pagar sua graduação, que inclui
apenas alguns meses de parte prática. Representam mais de 75% dos profissionais
da assistência aos hospitalizados. São soldados cambaleantes num exército
desorganizado com muitos generais que passam ao largo. Como soldados, acabam
sendo lembrados como os do panteão dos desconhecidos.
Recebem em média um salário mínimo e meio mensal,
para uma jornada de 12 horas, a cada dois dias. A maioria precisa de um segundo
emprego, sendo obrigada a trabalhar de madrugada de duas a três vezes por
semana, com apenas um final de semana livre ao mês.
A rotatividade é enorme, chegando a 40% ao ano em
diversos hospitais privados, pois inexiste estímulo técnico, social ou
financeiro.
Diferentemente de médicos, técnicos com mais de
cinco anos de experiência no campo de batalha são uma raridade. Os “donos do
sistema” dizem que há falta de “mão de obra qualificada”, e esses
neo-escravistas acham que basta investir em tecnologia, para diminuir a
incidência e a gravidade dos erros na saúde.
Um craque pode ganhar jogos, mas equipes bem
treinadas e integradas ganham campeonatos. Os técnicos de enfermagem não são o
problema; ao contrário, fazem parte da solução.
Alfredo Guarischi é médico
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O SINDIPROENF/PR RESPEITA E CITA A FONTE DA MATÉRIA, MATÉRIA DE INTERESSE DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DO BRASIL.